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Capitalismo Selvagem e Inteligência Artificial: o avanço tecnológico como instrumento de dominação

  • Tiago Peixoto
  • 8 de abr.
  • 3 min de leitura


O debate sobre a ascensão da inteligência artificial (IA) no mundo contemporâneo tem se concentrado, em geral, nos avanços impressionantes da tecnologia. No entanto, por trás da euforia e do marketing sedutor das big techs, esconde-se uma realidade sombria: a consolidação de um modelo de capitalismo selvagem, em que a IA é não apenas ferramenta de inovação, mas também de violação sistemática de direitos autorais, apropriação indevida de propriedade intelectual e manipulação social em larga escala.


Estamos, talvez, diante do maior caso de usurpação da criatividade humana da história — e, tragicamente, com pouquíssima resistência social ou institucional à altura da ameaça.



A indústria do hype e a manipulação estratégica do medo


A aceleração das tecnologias de IA tem sido acompanhada por uma explosão de hype — cuidadosamente arquitetada nos conselhos administrativos das grandes empresas de tecnologia. Por trás dos gráficos reluzentes, das conferências globais e dos anúncios revolucionários, está um jogo frio e meticuloso de exploração dos medos humanos mais básicos, sobretudo o medo de parecer ignorante ou de ficar para trás.


Essa ansiedade coletiva alimenta um comportamento de rebanho que retroalimenta os lucros das corporações e sufoca o senso crítico da sociedade. O mais irônico — e perturbador — é ver profissionais altamente qualificados e inteligentes tornarem-se peças previsíveis nesse tabuleiro: reféns de seu instinto de sobrevivência digital, repetindo discursos, validando plataformas, promovendo tecnologias cujos objetivos reais estão longe do que é publicamente propagado.


A inteligência artificial é, hoje, a ponta de lança de uma estratégia muito mais ampla e sinistra: a de dominar o imaginário social, controlar o comportamento e transformar cada indivíduo em ativo explorável. A “inteligência” não está na máquina — está no modelo de negócio que a instrumentaliza, invisível aos olhos da maioria.




A urgência da soberania tecnológica brasileira


No Brasil, a resposta institucional ao avanço da IA tem sido tímida, fragmentada e frequentemente capturada por interesses privados. A retórica de inovação não tem sido acompanhada de ações concretas para garantir autonomia tecnológica e soberania digital. Fala-se muito em regulação, pouco em tecnologia nacional. A palavra “patente” mal aparece nos discursos oficiais, e a propriedade intelectual — chave para o protagonismo global — continua relegada a segundo plano.


Enquanto isso, recursos públicos fluem para startups que, em muitos casos, são vendidas rapidamente a multinacionais. O resultado? Dinheiro nacional financiando ativos estrangeiros, e um ciclo vicioso de dependência tecnológica e esvaziamento da capacidade estratégica do país.

É preciso afirmar, com urgência: os recursos existem. O que falta é vontade política, prioridade orçamentária e pressão da sociedade civil organizada. Instituições acadêmicas, empresários nacionalistas e líderes do setor precisam abandonar a passividade e exigir, de forma contundente, subvenções maciças à ciência e tecnologia brasileiras, sobretudo em software — campo no qual a soberania ainda é viável — e em hardware estratégico.


Sem um plano robusto, ambicioso e soberano, o Brasil corre o risco de se tornar um consumidor resignado da IA alheia, com sua cultura, economia e sociedade sob o controle invisível de algoritmos criados em outras línguas, sob outras bandeiras e a serviço de outros interesses.


O discurso bonito não basta. O tempo da contemplação passou. A história está sendo escrita agora — e, se o Brasil não assumir as rédeas de seu futuro digital, será apenas nota de rodapé nas crônicas do novo colonialismo tecnológico.

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